terça-feira, 6 de abril de 2010

Modismo


Atualmente estamos acostumados a ver mulheres maravilhosas totalmente perfeitas, e muitas de nós mulheres nos sentimos literalmente um lixo.
Devemos isso a o que chamamos de mídia que impõe aquele estereótipo e tem que ser seguido se não você se torna um marginal ( à margem da sociedade), todos estes modismos que chegam de uma hora para outra e somem com a mesma velocidade que aparecem, faz de nossa juventude um aglomerado de alienados, que só sabem usar o orkut, o twitter e etc.
Faz dos adolescentes manequins para serem mostrados todos os tipos de marcas pois quanto mais você consome, mais importante você é , neste atual sistema capitalista você literalmente o que você compra pois, a sua imagem já não existe seu caráter não vale de nada o que importa é o que você tem no bolso.
Enfim, para complementar meu ponto-de-vista não existe texto melhor do que o de Carlos Drummond de Andrade:

Eu etiqueta

Em minha calça está grudado um nome

Que não é meu de batismo ou de cartório

Um nome... estranho.

Meu blusão traz lembrete de bebida

Que jamais pus na boca, nessa vida,

Em minha camiseta, a marca de cigarro

Que não fumo, até hoje não fumei.

Minhas meias falam de produtos

Que nunca experimentei

Mas são comunicados a meus pés.

Meu tênis é proclama colorido

De alguma coisa não provada

Por este provador de longa idade.

Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,

Minha gravata e cinto e escova e pente,

Meu copo, minha xícara,

Minha toalha de banho e sabonete,

Meu isso, meu aquilo.

Desde a cabeça ao bico dos sapatos,

São mensagens,

Letras falantes,

Gritos visuais,

Ordens de uso, abuso, reincidências.

Costume, hábito, permência,

Indispensabilidade,

E fazem de mim homem-anúncio itinerante,

Escravo da matéria anunciada.

Estou, estou na moda.

É duro andar na moda, ainda que a moda

Seja negar minha identidade,

Trocá-la por mil, açambarcando

Todas as marcas registradas,

Todos os logotipos do mercado.

Com que inocência demito-me de ser

Eu que antes era e me sabia

Tão diverso de outros, tão mim mesmo,

Ser pensante sentinte e solitário

Com outros seres diversos e conscientes

De sua humana, invencível condição.

Agora sou anúncio

Ora vulgar ora bizarro.

Em língua nacional ou em qualquer língua

(Qualquer principalmente.)

E nisto me comparo, tiro glória

De minha anulação.

Não sou - vê lá - anúncio contratado.

Eu é que mimosamente pago

Para anunciar, para vender

Em bares festas praias pérgulas piscinas,

E bem à vista exibo esta etiqueta

Global no corpo que desiste

De ser veste e sandália de uma essência

Tão viva, independente,

Que moda ou suborno algum a compromete.

Onde terei jogado fora

Meu gosto e capacidade de escolher,

Minhas idiossincrasias tão pessoais,

Tão minhas que no rosto se espelhavam

E cada gesto, cada olhar

Cada vinco da roupa

Sou gravado de forma universal,

Saio da estamparia, não de casa,

Da vitrine me tiram, recolocam,

Objeto pulsante mas objeto

Que se oferece como signo dos outros

Objetos estáticos, tarifados.

Por me ostentar assim, tão orgulhoso

De ser não eu, mas artigo industrial,

Peço que meu nome retifiquem.

Já não me convém o título de homem.

Meu nome novo é Coisa.

Eu sou a Coisa, coisamente.

Lembre-se : " As flores são bonitas em qualquer lugar do mundo muita gente tem forma, mas não tem conteúdo". ( Charlie Brown Jr)


5 comentários:

  1. Oi Maira sou eu o Michel!
    Bom,eu curti bastante o seu blog,achei ele construtivo e singular!
    Mas eu acho que mulher é linda por natureza e não precisam se sentir um lixo!

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  2. Muito obrigada Michel por seu comentário, infelizmente é o que você acha e o resto do mundo tá me entendendo é isso que ocorre...

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  3. Na minha opinião não é basicamente isso de se sentir um lixo mas realmente uma grande parte das mulheres são julgadas,não pelo q é mas pelo que aparenta ser,quer seja pela roupa q use,por está na moda, ou por uma simples questão de estética enquanto o conteúdo e o caráter na maioria das vezes são deixados de lado!!

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  4. Não apenas as mulheres, todos atualmente somos julgados pela aparência... se veste de out-door ambulante aquele que quer.
    Mas muitos que mantém sua real identidade, acabam se sentindo realmente desprezados... e isso não é de hoje, a diferença com os tempos antigos e o atual, é que agora temos marcas a exibir, Mas a humanidade sempre foi assim.

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  5. Justamente, o problema está no sistema, parece que o homem de modo geral, perdeu a capacidade de reconhecer o real valor de tudo, reconhecer a essência da vida, por está condicionado a fazer um pré-julgamento de tudo pelo rótulo, pelo disfarce.
    A satisfação pela aparência é tanta, que muitas vezes esquecemos que o que importa na verdade é o perfume e não o frasco...
    Acredito que existem muitas pessoas que têm personalidade, que se preocupam em demonstrar seus princípios em primeiro lugar, e acreditar que isso possa conquistar ao outro independente de como esteja vestido, do que esteja usando, pois seus princípios, podem ser levado onde for, e ninguém lhe rouba...
    Parabéns Maíra, gostei muito do seu blog, aborda muitos assuntos interessantes e que nos faz refletir e entender nosso papel na sociedade...

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